terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Home cinema

23h30. Chego a casa. P'ra variar, não tenho lugar para estacionar e, uma vez mais, esqueci-me da chave da garagem. Encosto. Encostada ao meu lado, a estúpida esperança de que alguém saia de um dos bares a essa hora. Respiro e deixo-me levar por essa ilusão.
Por uns instantes, dentro do carro, uma paz apodera-se de mim. Contemplo tudo o que me rodeia.
Em frente à minha porta está um casal de namorados. Discutem.
O típico arrufo de namorados "à lá Morangos com Açucar": ele vai falando, ela vira-lhe as costas (nesse gesto faz com que o cabelo bata na cara do menino), vira-se, olha p'ra ele, faz beicinho, cruza os braços, vira-se de novo, encosta-se à parede, and so on, durante vários minutos. Ele, como um paspalho, vai-lhe acariciando.
No silêncio do meu carro vou imaginando os diálogos ( e divirto-me, confesso).
Desvio o olhar por uns instantes. Aproxima-se um grupo de pessoas mascaradas. Não me surpreendem. Os gajos vestidos de gajas, as gajas vestidas de gajos.
Olho para a minha porta. Continuam lá os pombinhos. Os papéis inverteram-se. Típico. Como em qualquer arrufo, isto funciona "à vez". O menino faz beicinho e cara de mau. Fala grosso e vira-lhe as costas.

Vejo que há um lugar e arranco. Estaciono. Ao chegar a casa, dou de caras com os dois. Ela chora desalmadamente e ele, qual homem das cavernas, puxa-a pelo braço, arrasta-a pela rua e vai dizendo " Vá, Chora p'rai".

Moral da história: todos os arrufos têm a sua piada. No final, acabam bem. No final é sempre a gaja que acaba a chorar- desalmadamente.
Quero acreditar que é o efeito "lado maternal".

6 comentários:

S. G. disse...

meu deus,

livrai-nos de todos estes males,

e livrai-nos também de ter de assistir a isto na rua,

livrai-nos de homens toscos, entregues a miúdas dóceis (ainda por cima cegas)

livrai-nos dos pecados e dos desamores. e livrai-nos de quem pensa que os homens são todos iguais,

à men.

PontoGi disse...

Acrescento:
livrai-nos das gajas que se prestam a esse papel.

El Salib disse...

Eu acho que o Fernando Pessoa queria terminar a oração com "há men."

É preciso é abrir os olhinhos antes que eles saltem

S. G. disse...

isso há, amigo, há homem...

mas eu quis dizer que o comentário foi à homem...tipo à macho latino que sabe o que as mulheres precisam...

e isso não é machismo, mas sensibilidade para perceber que todos temos necessidades idênticas.

(saltar tipo o 2 cavalos? :)

El Salib disse...

Oh pá. Afinal quem é que sabe o que tu queres dizer? Se calhar és tu, não?
Eu é que tenho de traduzir o que tu dizes.

S. G. disse...

então digo amén...