quinta-feira, 15 de maio de 2008

Fascista, eu??

"O liberal-conservador não é nem um liberal puro, nem um conservador puro. Aliás, o principal inimigo do liberal-conservador é o purista de qualquer tendência. A verdade é que o liberal-conservador embirra com os liberais puros que nos dão uma má fama ao fazerem-se passar por nós, liberais-conservadores. Os liberais puros reduzem a política à economia, não toleram desvios ao que defendem e vendem o liberalismo como um plano quinquenal. (…) O liberal-conservador também não vai à bola com o conservador puro. O conservador puro tem a dificuldade de conviver mal com a liberdade dos outros (…) Um liberal-conservador está sempre a vigiar a temperatura das suas convicções. Se o termómetro dispara para cima ou para baixo ele age logo com medidas temperadoras. Como liberal preza a independência pessoal contra todas as formas de sujeição, servilismo e pobreza. Como conservador reconhece que a independência absoluta é um projecto impossível e que há um módico de autoridade e hierarquia que temos de aceitar. Como liberal é individualista e pelo mercado. Como conservador reconhece que os indivíduos vivem melhor em comunidades socialmente coesas e organizadas. Como liberal é optimista. Como conservador é pessimista sobre o seu optimismo. Como liberal aprecia a cultura de massas. Como conservador não diz que é arte qualquer saloiice. Como liberal acredita. Como conservador desconfia."

Pedro Lomba, in Dn*

* por sua vez roubado daqui

2 comentários:

Anônimo disse...

O mais recente romance de Domingos Amaral, "Já Ninguém Morre de Amor", que devorei num dia como se fosse uma caixa do melhor chocolate suíço, serviu-me para, mais uma vez, reflectir sobre a visão masculina do amor.
Trata-se de uma narrativa escorreita, bem estruturada e apaixonante que conta as aventuras de uma família de garanhões, sempre dominados por paixões violentas, as quais são invariavelmente apimentadas por um falo gigantesco, atributo genético que trespassa quatro gerações. Além de provar que para os homens o tamanho é o mais importante, o livro revela como hoje em dia eles olham para as mulheres. A certa altura o autor desabafa que estas miúdas que cresceram a ver O Sexo e a Cidade são muito difíceis de compreender. Parecem muito avançadas, capazes de dormir rapidamente com um homem e com outro logo a seguir, mas depois são muito imaturas e frágeis, e afinal não são tão independentes como parecem.

Enquanto o narrador vai desvendando os episódios da família Palma Lobo, aproveita para reflectir sobre a condição masculina face às mulheres e como os homens sentem dificuldade em entender e aceitar as novas regras do jogo. «A minha geração de homens foi a primeira em Portugal a ter de lidar com a verdadeira independência feminina. Somos uma espécie de cobaias, os pioneiros a quem tudo acontece pela primeira vez ao chegarem a uma nova e desconhecida terra, onde as fêmeas andam à solta com dinheiro na carteira, sem terem de se justificar quando chegam às três da manhã a casa, ou de pedir licença para colocar um sutiã Victoria Secrets quando querem impressionar um gajo numa festa».
O livro vive e respira da mais pura ficção, dando ao leitor vontade de mergulhar de cabeça dentro da história e revela uma enorme sinceridade masculina, qualidade cada vez mais rara na literatura contemporânea.

Penso muitas vezes até que ponto a libertação das mulheres estará a condicionar os homens de uma forma mais profunda do que as mulheres – e os próprios homens – imaginam. Existe de facto uma nova mulher, independente, liberal, segura, autónoma, que gosta tanto de jogar o papel do gato como o do rato. As mulheres, que sempre detiveram sobre os homens um poder oculto, estão a saltar da caixa, qual Jack in the Box, assustando-os e intimidando-os. Ou seja, o fascínio pelo eterno feminino mantém-se, agora carregado de muita perplexidade e algum receio.
Por um lado, eles admiram-nos quando somos independentes, mas raramente suportam a ideia de ganharmos mais do que eles; gostam de nos ver vestidas de forma sexy, mas nunca escondem os ciúmes por um ex-namorado, mesmo que o tenha sido há 25 anos; gostam de nos ver brilhar, mas quase nunca se sentem bem na pele de ‘o marido de...’; admiram a nossa autonomia, mas adoram fazer-se de indispensáveis quando ficamos doentes. No fundo, estão a adaptar-se o melhor que podem, mas a força dos genes e da tradição ainda os trava. E aquilo que mais os atrai acaba por ser aquilo que os faz recuar. A estranheza mantém-se, a ambivalência e o desconforto aumentam.

Somos de facto muito diferentes, embora vivamos todos no mesmo planeta. Fechei o livro a gostar ainda mais dos homens. E talvez mesmo, arrisco, a entendê-los um bocadinho melhor...

Margarida R. Pinto

PontoGi disse...

Gostei. vou seguir a sugestão. :-)